Uma ampla, potente e inovadora convenção virtual oficializou, neste sábado (12), a candidatura de Manuela d’Ávila (PCdoB) prefeita e Miguel Rossetto (PT) vice em Porto Alegre. Embora não tenha sido presencial devido à pandemia, o evento foi marcado por grande vivacidade e pelo desejo coletivo de fazer vitorioso um novo projeto de reconstrução da cidade com democracia e igualdade. A convenção contou com a participação de cerca de 600 pessoas diretamente via plataforma digital, além de outras milhares que acompanharam pelas redes sociais, e teve depoimentos ao vivo de moradores da cidade, além de vídeos com apoios de personalidades.
Ao abrir a conferência, Manuela destacou a construção do programa de governo que levou em conta questões apresentadas por mais de 7mil pessoas com as quais ela e Rossetto se reuniram virtualmente, nos últimos meses.
“Existem muitas coisas que nos unem: os profissionais ameaçados do Imesf e as comunidades que lutam pelo não fechamento dos postos de saúde; as professoras da nossa rede municipal e as mães que lutam por vagas nas creches e nas escolas de educação infantil. Existe algo que une as trabalhadoras que vivem a falta de água na Lomba do Pinheiro e as pessoas que vivem as cheias da região do Sarandi; algo que une as catadoras de resíduos sólidos e os pequenos e médios comerciantes de nossa cidade; que une quem procura trabalho e renda e quem não aguenta mais o desrespeito às pessoas com deficiência; que une o movimento antirracista e quem não suporta mais andar de ônibus lotado e caro; algo que une a turma da cultura, da arte, do carnaval, as trabalhadoras e trabalhadores municipários, as protetoras dos animais, a juventude LGBT”, disse ao abrir a convenção.
O que nos une, continuou Manuela, “é a certeza de que precisamos de um novo caminho para nossa cidade, agora. Um caminho em que a verdade, o trabalho e o diálogo predominem sobre a arrogância, a mentira e o conflito. Em que a solidariedade vença o abandono e a frieza. Uma Porto Alegre realmente alegre, uma cidade em que a tolerância prevaleça sobre toda e qualquer forma de preconceito”.
A candidata continuou ressaltando que “não se trata apenas de eleger a mim e ao Miguel, mas de virar a página do abandono, da indiferença, da falta de compromisso, do empobrecimento, da perda da qualidade nos serviços públicos e iniciarmos, juntos, um novo capítulo da nossa história. A derrota do projeto autoritário de Bolsonaro começa com a construção de cidades mais justas, solidárias e democráticas. Não há nada mais importante que possamos fazer do que construir, aqui, uma cidade que seja, na prática, uma alternativa ao ódio, à exclusão, à intolerância e ao egoísmo”.
Manuela colocou ainda que “estamos entrando nessa campanha com a convicção de que vamos vencer. Temos forças políticas que representam a igualdade, o princípio da justiça social, do respeito a todos os direitos, das forças comprometidas com a democracia desse país. No segundo turno, nós estaremos lá. Não estaremos todas juntas no primeiro turno, mas marchamos do mesmo lado. Construímos a unidade possível”.
Apoios nacionais e internacionais
Na sequência, foi veiculado vídeo com o apoio de diversas personalidades locais, nacionais e internacionais da política, das artes, da academia, da intelectualidade e dos movimentos sociais à candidatura de Manuela e Rossetto, dentre os quais Chico Buarque, Caetano Veloso, Eduardo Moreira, Jean Willys, Márcia Tiburi, Leonardo Boff, João Gordo, Jorge Furtado, Bela Gil, Carol Proner, Djamila Ribeiro, Luís Eduardo Soares e Celso Amorim, entre muitos outros. As falas destacaram a força da candidatura e seu compromisso com uma cidade socialmente justa e igualitária e que ajude na construção de outros caminhos para Porto Alegre e para o país.
Em formato de bate-papo, Manuela e Rossetto conversaram, on line, com lideranças comunitárias, professores e militantes dos movimentos sociais. Os relatos ao vivo foram intercalados com depoimentos gravados. “Tenho certeza de que a caminhada eleitoral de Manuela e Rossetto vai ser bonita, esperançosa, marcada pelas bandeiras justas daqueles que acreditam que a cidade é um espaço para combater as desigualdades, propiciar oportunidades para todos, para que nosso país enfrente seus dramas sociais”, disse em mensagem gravada o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB.
O ex-governador gaúcho do PT, Olívio Dutra, destacou: “Esses companheiros representam um projeto solidário de humanização da cidade, a construção de uma relação harmoniosa entre e o urbano e o rural, nosso patrimônio histórico e cultural e nosso meio ambiente”. Também em vídeo, Ada Colau, prefeita de Barcelona, declarou: “Manuela é, para nós, fonte de inspiração, além de uma amiga muito querida. Necessitamos que Manuela seja a próxima prefeita porque precisamos de cidades irmãs com redes de amor e solidariedade, para defender a saúde e a educação pública, nossas crianças e seu futuro. Porque este é o momento em que o amor deve vencer o ódio”.
A voz do povo
A convenção também abriu espaço para a população se manifestar. Eliz Regina, do Assentamento 20 de Novembro, no Centro de Porto Alegre, prédio público que foi ocupado e é habitado por 24 famílias, relatou as dificuldades vividas pelos moradores, defendeu uma política habitacional para a cidade e disse: “É um sonho ter uma Porto Alegre mais humana e mais feliz”.
Janaína Barbosa, professora de escola municipal no bairro da Restinga, periferia da cidade, relatou: “a atual gestão nos deixou desassistidos antes mesmo da pandemia. Demorou quatro meses para implantar uma plataforma [de ensino à distância] que não atinge a todos os alunos. Nossa relação com essa gestão não existe porque não há diálogo. Nos sentimos desestimulados como professores, com desvalorização do nosso trabalho, da nossa carreira, da nossa previdência. Queremos uma escola que traga esperança para nossos alunos, que seja antirracista, com diversidade e inclusão, com muita afetividade e que renove a humanidade nas pessoas e para isso precisamos de outro projeto que dialogue com todos os setores da cidade”.
Verinha, moradora da Vila Cruzeiro, também na periferia da cidade, falou sobre a falta de acesso à saúde. “Os postos estão sendo fechados e colocam todos para serem atendidos no Postão da Vila Cruzeiro. Quando chove, o esgoto invade as casas. Precisamos muito de vocês na prefeitura”.
Alex Cardoso, catador que vive da reciclagem e morador da Cavalhada, defendeu os direitos de seus colegas e falou sobre a importância de haver uma política para os resíduos sólidos e para esses trabalhadores. “O povo que trabalha nos galpões ganha menos do que quem trabalha nas ruas. Precisamos de poder popular e da presença da prefeitura nas vilas. A reciclagem é super-importante, e sabemos como fazer”.
Evelyn Canizares, militante de movimentos de mulheres com deficiência, falou sobre as dificuldades vivenciadas por pessoas com algum tipo de limitação física. “É a mais inacessível entre as capitais do Sul e Sudeste. Tem muitos obstáculos, falta piso tátil e o transporte público piorou, com ônibus velhos e não adaptados”.
Unidade política
Ao final da convenção, o candidato a vice-prefeito e ex-ministro Miguel Rossetto, colocou: “é um prazer enorme essa unidade que representamos e que transborda à nossa militância, aos nossos apoiadores, que cresce e se transforma num grande movimento de uma cidade que quer mudança”. Rossetto também lembrou que “Porto Alegre nunca se resignou. Aos longo de 16 anos, a cidade vem sendo desconstruída, mas as pessoas nunca deixaram de lutar”. Ele destacou que “é um momento de unidade política forte, em que nossas experiências se articulam e combinam, temos muita energia e compromisso com nossa democracia, com as liberdades, com o nosso povo e país”.
Rossetto enfatizou ainda que estes “são tempos difíceis, tempos em que as liberdades e a democracia são agredidas, em que as elites chamaram o fascismo e o autoritarismo para impor uma agenda ultraliberal de violência, desmonte de direitos, de desemprego, de agressão à educação e de aniquilação da nossa soberania”. Ele também apontou que “há muita luta a ser feita, mas também muita resistência sendo construída e a luta política que estamos desenvolvendo aqui faz parte da luta política nacional, por justiça, por liberdades, por igualdade. E nossa candidatura compõe esse grande movimento. Queremos que Porto Alegre recupere a ideia de uma cidade radicalmente democrática. Estamos falando de resistência e a esperança é uma planta resistente e nunca deixamos de esperançar, de nos indignar e lutar por justiça em Porto Alegre e nosso país”.
Por fim, colocou: “Quero muito trabalhar, junto com todos e todas, para que no dia primeiro de janeiro tu, Manuela, abras as portas da prefeitura de Porto Alegre, representando a todos nós, para que ela seja iluminada pela energia da nossa participação, da solidariedade e da igualdade”.
Concluindo a convenção, Manuela destacou: “eleição municipal é sobre a nossa casa comum, a nossa Porto Alegre”. E completou: “a cidade que temos hoje não é a que sonhamos; a cidade que queremos será construída com a nossa força. Agora é nossa vez: das mulheres, da juventude, da periferia, dos trabalhadores e trabalhadoras. Chegou a hora de colocar o olhar das mulheres da nossa cidade no nosso governo. Quero ser a primeira prefeita de Porto Alegre”.
“A pandemia encontrou em Porto Alegre terreno fértil para se desenvolver porque o abandono é anterior a ela”, disse, ao tratar das dificuldades que terão de ser enfrentadas a partir da próxima gestão. E enfatizou: “Não temos tempo a perder com quem só trabalha na eleição; também não temos tempo para experiências que não deram certo”, em referência aos principais problemas da cidade acumulado ao longo das últimas administrações.
Após detalhar as linhas gerais defendidas no programa de governo e a importância do olhar e da representatividade feminina na política, Manuela concluiu: “não há nada mais importante que possamos fazer do que transformar nossa cidade numa alternativa real. Quando eles dizem ódio, nos dizemos amor, tolerância, solidariedade e respeito; quando eles pregam violência e fim do serviço público, nós defendemos postos de saúde, equipes completas, escolas transformadoras, trabalhadores do município respeitados. Quando eles dizem desesperança, nós dizemos que carregamos todos os nossos sonhos. Como dizia [Fernando] Pessoa, carregamos em nós todos os sonhos do mundo e se a cidade é o nosso mundo, nós o transformaremos para torná-lo realidade”.
Homologação da chapa
O ato político PCdoB-PT foi precedido de convenção eleitoral dos comunistas de Porto Alegre, realizada pela manhã, com a presença de 70 pessoas. No evento on line, foram aprovados, por unanimidade, a coligação PCdoB-PT, com Manuela d’Ávila prefeita e Miguel Rossetto vice, bem como a nominata de 37 candidatos e candidatas a vereador do PCdoB e o papel deliberativo da comissão executiva para a tomada de decisões que possam surgir pós-convenção.
Márcio Cabreira, da executiva nacional do PCdoB e coordenador da campanha majoritária em Porto Alegre, destacou que o processo eleitoral deste ano se dá em meio à maior crise sanitária já vivida pelas atuais gerações, situação que impôs uma série de limites à campanha eleitoral e ao diálogo com a população. “Temos de nos preparar para um disputa dura”, disse, mas ressaltou: “chegamos a este momento em condições favoráveis liderando em todos os cenários e pesquisas”.
Conforme o dirigente, “temos um ótimo programa de governo e a melhor candidata. Manuela está muito preparada, com muita vontade e clareza sobre o atual momento, que vai exigir a reconstrução da cidade e o atendimento aos que ficarão ainda mais vulneráveis. A cidade, antes do coronavirus, já estava abandonada e essa situação se radicaliza agora, com os efeitos devastadores da pandemia”.
Cabreira lembrou ainda que esta eleição tende a ter um grande nível de abstenção, de maneira que nenhum voto pode ser desprezado. “Para reconstruir a cidade, vamos precisar de uma bancada mais qualitativa do que quantitativa para comprar as brigas necessárias e nossa chapa é de gente guerreira, aguerrida, comprometida com nosso povo”.
Adalberto Frasson, presidente municipal do PCdoB, enfatizou que o projeto político do partido e do PT “vai reacender a esperança em Porto Alegre, neste momento tão difícil e sombrio, para que nossa cidade volte a ser o farol de esperança que o Brasil já viu, provando novamente que outro mundo é possível”. E concluiu: “nossos candidatos e candidatas à Câmara Municipal têm uma tarefa muito importante: ser, nos amplos setores de nossa cidade, a voz da esperança com Manu e Rossetto para a construção de uma Porto Alegre diferente”.
Veja a nominata de candidatos a vereador(a)
Assista o ato:
Por Priscila Lobregatte
Fotos (1,2 e 3): Laura Barros