O pré-candidato do PCdoB à prefeitura de Campo Grande (MS), Mario Fonseca, concedeu uma entrevista ao jornal local Rede Agora Campo Grande, que foi ao ar nesta terça-feira (25) contando sobre sua trajetória desde a infância, passando pela carreira e vida política.
Falou de suas motivações e inspirações, advindas de seus pais, e como encara essa fase de pré-campanha nesse novo formato, virtual, utilizando somente as redes sociais para se comunicar com o público.
Mário Fonseca também fez declarações sobre o governo Jair Bolsonaro e de Reinaldo Azambuja (governador de Campo Grande) e, por fim, falou sobre suas aspirações para prefeito, caso seja eleito, seu plano de governo, o PCdoB e o Movimento 65.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Mario Fonseca é membro da Coordenação Política Nacional da Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia (ADJC) e coordenador do Movimento Vitaliza Bairros Campo Grande. Filho de defensores da democracia no período da ditadura militar, Mario Fonseca considera que seus pais foram a sua primeira escola de política, valores humanistas, honestidade e lutas pela justiça social. Morou os primeiros 5 anos de sua infância entre Ponta Porã Campo Grande. Em 1979 mudou-se com seus pais para Porto Morumbi, distrito de Eldorado, à beira do Rio Paraná, no Cone Sul do estado, quando, aos 6 anos, iniciando sua vida escolar, já começou a despertar para as questões políticas e sociais. Eram ainda o que chama de “anos de chumbo”.
Aos 11 anos, já morando na sede do município, em Eldorado – MS, impactado pelos ventos da redemocratização, organizou o Comício das Crianças pelas “Diretas Já”. Ao mesmo tempo, ligado à Igreja Católica, assim que fez a Primeira Eucaristia vinculou-se ao Movimento de Jovens de Eldorado (MOJOEL). Aos 14 anos, mudou-se para Maringá-PR.
Aos 16 anos, ingressou no PCdoB e na União da Juventude Socialista (UJS), quando fundou o Grêmio Estudantil de sua escola. Foi diretor da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPE). Depois, já no curso de Direito na Universidade Estadual de Maringá (UEM), foi eleito presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), quando liderou as passeatas pelo “Fora Collor” e outras manifestações em defesa da educação pública. Em seguida, foi eleito diretor de Universidades Públicas da União Nacional dos Estudantes (UNE) e, na sequência, presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE), a primeira união estadual estudantil do país, fundada em 1939.
Quando voltou a morar em Mato Grosso do Sul, na capital, rapidamente integrou ao trabalho partidário no estado, ocupando várias funções, inclusive de presidente na capital e no estado, mas, segundo gosta de dizer, sempre procurando se vincular ao povo e à sociedade civil. Atuou na Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas Profissionais da Advocacia (CDA) e na Comissão de Defesa da República, da Democracia e da Reforma Política Democrática (CDRD-RPD) da OAB/MS. Ajudou a fundar e a coordenar o Comitê Memória, Verdade e Justiça de Mato Grosso do Sul (CMJV/MS). Colaborou com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ajudou criar e foi um dos coordenadores da Frente Brasil Popular de MS.
Em 2014, foi candidato a deputado federal. Em 2016, foi candidato a vice-prefeito da capital. Entre 2015 e 2016, foi Superintendente em MS do então Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), hoje Agência Nacional de Mineração (ANM). Pediu exoneração deste cargo no mesmo dia em que a presidenta Dilma foi afastada. Em 2018, foi candidato a senador, tendo obtido a maior votação que um filiado do PCdoB no estado desde a redemocratização, alcançado mais de 30 mil votos em todos os municípios e em todas as urnas do estado. Atualmente, é Secretário Estadual da organização do PCdoB e pré-candidato a prefeito de Campo Grande, liderando 43 pré-candidatos e pré-candidatas a vereador.
A motivação de Mario Fonseca veio da inspiração nas ideias, valores, lutas e exemplos de seus pais. “Não sei dizer ao certo como ou quando entrei na política. Acredito que a política que já me tem desde tenra idade, mas não a politicagem, a política pequena, a política feita para obter vantagens ou status, mas sim a política que a se faz a todo, onde quer que estejamos, no bairro, no meio profissional que a gente atua, no meio do povo e também assumindo responsabilidades públicas. Em resumo, a política que se faz para mudar a realidade social, para melhorar a vida das pessoas, numa cidade e numa nação, como candidato ou não, eleito ou não. No entanto, gostaria sim de ter a oportunidade de realizar um trabalho em prol da minha comunidade, não como salvador da Pátria ou fazedor de mágica, pois ninguém faz nada sozinho, mas como representante de um projeto que, valorizando o que de bom aqui se construiu e enfrentando problemas que nunca se resolvem, para que consiga dar nova dinâmica ao desenvolvimento de Campo Grande, que pode ser mais democrática, humana, segura e sustentável para todos, com prioridade aos bairros, setores e pessoas mais carentes da ação proativa do poder público.”, afirmou.
Mario nunca realizou projetos sociais para posar de benfeitor ou ser reconhecido como pessoa caridosa. Ele diz ser mais o grande Eduardo Galeano: “eu não acredito em caridade, eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima pra baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro”. O pré-candidato procura ao máximo ser solidário com as pessoas não só em declarações, mas na prática, individualmente ou em ações mais coletiva, sem fazer publicidade disso: “para mim, isso é obrigação para quem cultiva valores humanistas. Entendo que há ações sociais organizadas que requerem publicidade, até para angariar ajuda, envolvimento e servir de exemplo. Isso não condeno. De modo amplo, sempre estive envolvido em ações sociais, desde que fui do Movimento de Jovens da Igreja Católica, nas lutas pelos direitos dos estudantes, junto com os estudantes, pelo direito à meia-entrada, contra aumentos abusivos de mensalidades, barrando retrocessos ou obtendo conquistas, insurgindo-me face a injustiças e abusos cometidos contra os desvalidos da sociedade.”, diz ele.
Mario Fonseca diz não ser pré-candidato por mero ato de vontade pessoal, mas está com muita vontade de assumir o cargo, porque corresponde também ao desejo de muitas pessoas que, diferentes entre si, têm sonhos, ideias e propostas em comum para tornar Campo Grande uma cidade melhor do que já é para se viver: “não sou candidato de mim mesmo. Não tenho obsessão. Tenho sim a gana de fazer o bom combate, sem ataques pessoais, criticando atitudes a partir do que foi feito e a incoerência quanto ao que é proposto, mas sem baixaria e desrespeito. Precisamos valorizar a convivência democrática. Intolerância não é algo civilizado, mas coisa de bestas-feras. No entanto, em tudo, a gente precisa ter lado e, de vez em quando, dar-se legitimamente o direito à “Ira Santa” diante dos que praticam e dizem horrores. Essa é a política que acredito, que mais constrói do que dinamita pontes, mas que não transige com o malfeito e os malfeitores. O que está desgastada é a politicagem, o político intolerante, numa ponta, e o político insípido, inodoro e incolor, do outro, que nunca se posiciona. O sistema político que está desgastado, mas precisa ser reformado, transformado, aprimorado, não negado. A negação da política que nos trouxe a este estado de coisas, inclusive ao endeusamento de demagogos, trogloditas, espertalhões e picaretas outsiders, como esse aprendiz de tirano de plantão lá no Palácio do Planalto. Se a política está ruim, vamos participar, não apenas como candidatos, mas como povo. Não há saída fora da política. Não há salvador da Pátria. Político não é mito, muito menos Deus.”.
Com relação a pré-campanha o pré-candidato declarou ser uma realidade duríssima, triste, trágica, pois impôs utilizar mais as redes sociais como forma de comunicação com o público, as web-conferências como forma de reunir os partidários, amigos e apoiadores. “Neste exato momento combinamos as web conferências com as lives num só meio, ou seja: estamos reunindo pré-candidatos, colaboradores e amigos em plenárias virtuais transmitidas ao vivo nas redes sociais para debater o nosso plano de governo do Movimento 65 para Campo Grande (Movimento 65 é uma frente cívica-eleitoral mais ampla que o PCdoB, embora pela nossa legenda, aberta ao povo e a pretendentes a cargos eletivos que concordem com a ideia de uma cidade democrática, humana, segura e sustentável, independente de não ter pleno acordo em questões ideológicas), de maneira que quem não está na plenária, acompanha o debate pelas redes, opinando, criticando e sugerindo.”, contou Mario Fonseca a Redação do Agora Campo Grande.
Quando questionado sobre o governo do atual Presidente Jair Messias Bolsonaro, Mario Fonseca declarou ser o pior governo da história “a maior ameaça à existência independente da nação, porque é entreguista e subserviente ao estrangeiro, aos direitos do povo, porque é escravista, e às liberdades democráticas, porque tem um projeto nitidamente autoritário. Quer rasgar a Constituição de 1988 e instaurar uma ordem abertamente tirânica. Não respeita as instituições democráticas. Usa fake news como método de governo, fazendo inveja a Goebbels, ministro de Hitler, que dizia que uma mentira repetida mil vezes viraria verdade. Não está nem aí para o combate à pandemia, para o SUS e para a mais de uma centena de compatriotas mortos. Desprezou a Covid-19 e a defesa da vida prometendo defender a economia e o emprego. Só em Campo Grande, praticamente um terço das micro, pequenas e médias empresas quebraram e dezenas de milhares perdeu o emprego. É mestre em se apropriar de feitos alheios, como o auxílio emergencial, que queria de 200 reais, mas que a oposição e o Congresso Nacional impuseram a ele 600 reais. Ainda assim sabotou. Milhões que deveriam ter recebido não receberam. Não ajudou empresas produtivas que geram empregos, só parasitas banqueiros, dando-lhes 1 trilhão de reais! E faz a velha política que jura combater cooptando a pior escória política do parlamento. Isolou o Brasil do mundo. Briga com todos. Nem Trump quer parecer muito que está junto. Uma tragédia sem precedentes. Precisa sair. Acho que agora não temos ainda as condições, mas o povo logo saberá quem é de verdade esse enganador genocida e enrolado em um sem número de malfeitos. Fez de seu núcleo familiar uma verdadeira gangue. Seu destino será a lata de lixo da história. Traidor da Pátria. Serviçal dos magnatas parasitas. Uma desonra para a história gloriosa do Exército Brasileiro.”.
“Não diria que é a mesma coisa que o desgoverno de Bolsonaro, embora em muitas questões se pareça, mas é desgoverno também. O único ponto positivo é a postura de seu secretário de saúde no combate à pandemia. O único que restou altivo. E só. Duvido um empresário do campo ou da cidade, um trabalhador ou um servidor público apontar um ponto positivo dessa gestão. Meu partido, na última Conferência Estadual, não aprovou a bandeira de sua saída, até porque seria uma irresponsabilidade, mas aprovou o “Basta de Azambuja”, ou seja, um basta aos seus desmontes, ao sucateamento dos serviços públicos, aos atentados contra os direitos dos servidores públicos, ao modo indigno como tratou a segunda maior população indígena do Brasil, ao arrocho fiscal e à postura truculenta com os que pensam diferente. No segundo turno de 2016, apoiamos Marquinhos para evitar que o PSDB concentrasse poder em demasia e porque o atual prefeito criticou suas políticas privatistas… Mas desde 2018 e, ao que parece, agora em 2020, o que vemos? “Tudo junto e misturado”.”, afirmou Mario Fonseca ao ser questionado sobre o governo de Reinaldo Azambuja.
“Não sou de ficar soltando fraseologias eleitoreiras, por isso não vou dizer que não fez nada de bom. Mas fez muito pouca coisa boa. Um projeto que já se esgotou e que não é capaz de oferecer o que a cidade realmente precisa para se modernizar e se desenvolver de modo mais robusto, com justica social. Um governo errático. A postura em ziguezague no combate ao Coronavírus na capital mostra bem o que é essa gestão. Começou bem. Soltei carta apoiando, porque pensei que neste momento, diferenças políticas e interesses eleitorais tinham que ficar de lado para todos nos unirmos em defesa da vida. Mas o prefeito, com quem tenho relação cordial e de respeito pessoal, quis “matar no peito” sozinho o enfrentamento à crise da pandemia. Deveria ter unido o povo da cidade, mobilizado a comunidades, que ele conhece bem e de onde vinham a maior parte de seus apoiadores. Propus isso a ele. Mas o que ocorreu? Acabou refém da pressão dos ricaços gananciosos e dos negacionistas. Começou dizendo que “Campo Grande abraça a ciência” e terminou abraçando a cloroquina. Entre outros fatos.”, respondeu ele ao ser questionado sobre o governo do prefeito da capital Marquinhos Trad
“Desejo me tornar o prefeito de um projeto, de uma visão total, interligada e integrada cidade, não de uma só bandeira. Quero representar ideais, sonhos aspirações e um programa concreto de mudanças de interesse da comunidade, principalmente dos que mais precisam da presença do Poder Público. Neste momento, estamos dialogando com estudiosos, especialistas e pessoas com experiência na gestão pública para elaborar o Programa de Governo para Campo Grande/MS (período 2021-2024) do Movimento 65, movimento cívico-eleitoral mais amplo que o PCdoB. Estamos pensando a intervenção no presente da cidade, mas projetando ações para o seu futuro. E, principalmente, nos limites das condições impostas pela pandemia, mais por meios virtuais, ouvindo o povo, independente de posição política, ideológica, religião, etc. Quero liderar uma forma diferente de gestão da cidade, de relação do Poder Público com a sociedade, de administrar o patrimônio público e de oferta de serviços públicos. Tudo isso pensando uma governança democrática sustentada na transparência, no combate radical à corrupção e na participação social nas decisões da cidade, sem que isso signifique usurpar o papel do Poder Legislativo, que será chamado a implementar esses mecanismos. Quero liderar uma gestão participativa e inovadora, atenta aos problemas urbanísticos e sensível às desigualdades sociais. E hora de dar um basta à mesmice administrativa, que vê primeiro os orçamentos e as finanças, quando devia olhar primeiro as pessoas. É preciso elevar a qualidade de vida de todos, independentemente de onde more e de sua faixa de renda, mas com prioridade onde há mais precariedade em termos social, de infraestrutura e de serviços públicos. Nosso partido e os setores que quero comigo na linha de frente do novo governo têm acúmulo histórico de participação exitosa em várias gestões, aqui e em todo o Brasil. Por entender a campanha política como um momento de escuta dos anseios, demandas e sonhos da população, apresentamos estaremos apresentando linhas gerais para que a população opine amplamente durante o processo eleitoral. Em suma, queremos uma Campo Grande mais humana, democrática, saudável, sustentável e segura. Nas quais tudo, inclusive grandes obras, tenham como objetivo final uma vida melhor para as pessoas.”.
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Barbara Luzan
Fonte: Redação Agora Campo Grande