A presença de policiais e de agentes das forças de segurança pública entre os candidatos que concorrem às eleições cresceu 27% neste ano em relação a 2018. Os dados disponibilizados até este momento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam que há mais de 1.700 nomes vinculados às polícias militar — a grande maioria, com 817 —, civil, corpo de bombeiros e Forças Armadas, contra 1.300 há quatro anos. A maior quantidade, em números absolutos, está nos estados do Rio de Janeiro (241), São Paulo (224) e Minas Gerais (116).
Os dados foram colhidos em 16 de agosto, primeiro dia oficial da campanha eleitoral, e podem sofrer alterações conforme atualização dos dados por parte do TSE. Porém, os número atuais já produziram um quadro passível de ser analisado à luz do contexto político atual.
A partir do que já está disponibilizado, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública emitiu um informe de análise sobre as características e significados que essas informações iniciais revelam.
Dentre as constatações feitas está uma que, embora não surpreenda, é importante para a compreensão da posição ideológica adotada historicamente por esses agentes públicos e em especial durante o período Bolsonaro.
Os partidos de direita são os que concentram a grande maioria desses profissionais: mais de 68,5%. A centro-direita tem 26,4%, a centro-esquerda tem 3,7% e a esquerda, 1,4%, percentuais aferidos em 15 de agosto pelo FBSP. O partido de Jair Bolsonaro, o PL, é o que tem a maior presença, 232; o PTB tem 140 e o Republicanos, 137. Já o PT e o PCdoB, por exemplo, contavam, naquela mesma data, com dez e três candidatos respectivamente.
“Análise feita na edição de 2020 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública sugere que policiais tendem a ser mais eleitos em contextos de crises e de reversão de expectativas não apenas no ambiente econômico, mas de prioridades e ideologias políticas. No caso da segurança pública, o crescimento do fenômeno dos policiais na política partidária precisa ser matizado pelos múltiplos movimentos do campo, mas também precisa ser lido pela construção de uma narrativa que tem conseguido resumir a política à guerra contra o mal, na qual os policiais são vistos como os guerreiros que irão repor a ordem, a moral e os bons costumes. E, de forma adicional, guerreiros injustiçados e desvalorizados pelos ‘governos de esquerda’”, diz a análise do FBSP.
O Fórum avalia ainda que o foco político dos candidatos ligados à segurança pública “desloca-se para a defesa da ideia de enfraquecimento das travas legais impostas aos policiais e para a liberdade de eles próprios determinarem a legitimidade da narrativa e das ações que estruturam as representações sociais acerca dos rumos e sentidos das políticas de segurança pública e de administração de conflitos de uma sociedade”. E cita como exemplo a defesa, por parte de Jair Bolsonaro, da ampliação do excludente de ilicitude para todas as mortes decorrentes de intervenção policial.
Nesse cenário, o relatório aponta que as polícias procuram, cada vez mais, “ganhar autonomia em relação aos controles civis que, na prática, já as controlavam apenas excepcionalmente nas últimas décadas, em uma arquitetura institucional que fortalece a figura do presidente da República. Isso é ainda mais sensível em momentos em que líderes populistas e autoritários, como Jair Bolsonaro, ocupam tal cargo”.
Por Priscila Lobregatte