A Polícia Federal (PF) deflagrou na quinta-feira (11), em Alagoas, a Operação Beco da Pecúnia, que tem como alvo o prefeito de Rio Largo (AL), Gilberto Gonçalves (PP), aliado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP).

O objetivo da operação é aprofundar a investigação sobre crimes de desvios de recursos federais da educação e da saúde, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A PF identificou que, entre 2019 e 2022, foram realizados 245 saques “na boca do caixa” de contas de duas pessoas jurídicas contratadas para fornecer material de construção, peças e serviços para veículos, com o valor individual de R$ 49 mil, logo após terem recebido recursos de contas do município de Rio Largo.

Os valores dos saques, de R$ 49 mil, tinham a finalidade de burlar o controle do Banco Central e Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que prevê a obrigatoriedade dos bancos informarem automaticamente transações com valores iguais ou superiores a R$ 50 mil.

A prefeitura de Rio Largo já pagou às duas empresas investigadas, Litoral Construções e Serviços Ltda. e Reauto Serviços e Comércio de Peças, mais de R$ 18 milhões. As autoridades suspeitam que ao menos R$ 12 milhões teriam sido desviados.

Os recursos vêm do Fundo Nacional de Saúde/SUS, do Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb) e, também, do Fundo Nacional de Assistência Social.

A operação resultou no afastamento cautelar do prefeito Gilberto Gonçalves, que jogou o celular pela janela, para impedir que o mesmo fosse apreendido pelos policiais federais.

Foram afastados do cargo quatro secretários municipais, que chefiam essas áreas e a de Finanças.

O celular do prefeito foi encontrado no terreno vizinho à sua casa.

O nome da operação, “Beco da Pecúnia”, é uma referência ao local onde a PF flagrou quatro entregas de valores a pessoas vinculadas ao município, logo após terem sido sacados por duas pessoas ligadas às duas empresas, em um beco próximo à prefeitura de Rio Largo.

Aliado de Arthur Lira (PP-AL) de longa data, Gilberto Gonçalves espalhou outdoors pela cidade, com sua imagem ao lado do deputado, exaltando a parceria política e agradecendo por investimentos do parlamentar em Rio Largo.

De acordo com reportagem da revista “Piauí”, nada menos que R$ 90 milhões já foram empenhados do orçamento da União por meio das emendas do orçamento secreto, aquelas que são direcionadas sob a fachada do relator-geral do orçamento sem que o real solicitante do repasse seja divulgado. Além do mais, não há transparência, nenhum controle de como e em quais áreas as verbas são aplicadas no município.

Lira só assumiu, em documentos tornados públicos, ter indicado R$ 16 milhões – e os outros R$ 74 milhões seguem sem padrinho informado.

A revista “Piauí” mostra que Gilberto Gonçalves e Arthur Lira foram colegas de bancada no Partido da Mobilização Nacional (PMN) na Assembleia Legislativa de Alagoas há pouco mais de quinze anos. Como tal, participaram de um esquema de desvio de dinheiro, de cerca de R$ 300 milhões, alvo da Operação Taturana, deflagrada pela Polícia Federal em 2007. Gonçalves foi preso e Lira, afastado do cargo. Ambos foram indiciados.

Condenado por improbidade administrativa em duas instâncias, Arthur Lira até hoje recorre da sentença no Superior Tribunal de Justiça.