A Rússia advertiu na segunda-feira (8) que o regime de Kiev está fazendo “a Europa toda de refém” ao atacar a usina nuclear de Zaporizhia – a maior da Europa -, sob controle russo desde o final de fevereiro, e denunciou que situação em torno da usina torna-se “cada vez mais perigosa”.

Os ataques de artilharia ucranianos no final de semana danificaram uma linha de alta tensão e causaram incêndio na usina, o que levou o Ministério Russo da Defesa russo a denunciar “o novo ato de terrorismo nuclear”. Em 21 de julho, a Rússia acusou a Ucrânia de atacar com drones o território da central nuclear.

“Esperamos que os países que têm uma influência absoluta na liderança ucraniana utilizem esta influência para excluir tais bombardeamentos”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertando para “as consequências catastróficas” que tais ataques às instalações nucleares poderiam ter “para um enorme território, incluindo o território da Europa”.

A usina nuclear de Zaporizhia é a maior da Europa e está entre as 10 maiores usinas nucleares do mundo em capacidade instalada e em produção de energia, com 5.700 MW.

“Foi a 44ª brigada de artilharia da Ucrânia”

O porta-voz militar russo, tenente-general Igor Konashenkov, identificou a unidade ucraniana que disparou contra a central nuclear no domingo: a 44ª Brigada de Artilharia da Ucrânia, a partir da aldeia de Marganets, do lado oposto do grande reservatório de água de Kakhovka.

O bombardeio danificou uma linha elétrica de alta tensão, provocando um curto-circuito na usina nuclear e um incêndio, que acabou sendo controlado pela brigada contra incêndios. Para evitar a interrupção da operação da usina nuclear, a equipe técnica da usina teve de reduzir a potência das 5ª e 6ª turbinas para 500 MW.

As autoridades da cidade de Energodar – onde se situa a usina nuclear – revelaram outros detalhes alarmantes sobre o ataque na noite anterior contra a central. Especificaram que o ataque foi realizado com lançador múltiplo de foguetes Uragan, com um projétil cluster de 220 mm, tendo estilhaços atingido a área onde está armazenado o combustível nuclear usado, ao mesmo tempo em que danificaram um posto de segurança automatizado. Da mesma forma, as estruturas administrativas e o território adjacente ao depósito de combustível foram danificados.

“É importante notar que não há mais de 400 metros de distância entre o local de impacto das ogivas de estilhaços e o próprio motor do foguete até a unidade de potência ativa”, detalharam as autoridades.

Somente graças às ações dos funcionários da central nuclear e dos militares russos que garantem a proteção da instalação foi possível evitar um desastre, enfatizou a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova. Ao apontar sua artilharia contra os reatores ativos e o depósito de combustível irradiado, “os ucranianos estão mirando a si mesmos”, ela denunciou.

A porta-voz apontou que “assassinatos na calada da noite é o ‘modus operandi’ característico, senão a essência, dos seguidores da ideologia de [colaboracionista nazista Stepan] Bandera, que é conhecida desde a época da Grande Guerra Pátria. Mas agora eles escolheram não apenas os povos da Rússia e da Ucrânia como alvo. Estão, na verdade, tomando toda a Europa como refém”, disse a porta-voz.

Guterres condena “ataques suicidas”

O Secretário-Geral da ONU Antonio Guterres condenou os ataques “suicidas” à central nuclear, enquanto o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, alertou que o risco de uma possível catástrofe nuclear é “muito real”.

Grossi disse no último sábado que a instituição está “extremamente preocupada” com os ataques registrados perto da usina, e pediu às partes em conflito que exerçam o máximo de contenção nas proximidades desta importante instalação nuclear e condenou qualquer ato violento realizado na usina, seus arredores ou contra seu pessoal.