A limitação da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis pelo governo Bolsonaro não surtiu efeito significante sobre a inflação brasileira. Apesar de, no mês de julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter registrado deflação, em 12 meses, a inflação acumulada continua em dois dígitos. Com a carestia, o Brasil mantém a posição de quarta maior alta de preços no ranking que leva em conta os países do G-20 (grupo dos 19 mais ricos do mundo) e da União Europeia.
Na liderança do ranking, elaborado pela empresa de análises e tecnologia financeira Quantzed, encontra-se a Turquia, com inflação de 79,6%, seguida da Argentina e da Rússia, com taxas de 64% e 15,9%, respectivamente. Os países que apresentam as menores altas de preço são China (2,5%), Japão (2,4%) e Arábia Saudita (2,3%).
Em ranking da inflação dos países do G20 divulgado em julho pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil já aparecia em quarto lugar, também seguido de Turquia, Argentina e Rússia. Nos 12 meses de maio de 2021 a maio de 2022, a média da inflação de todos os países do G20 foi de 8,8% enquanto, no Brasil, o índice está acima de dois dígitos desde setembro de 2021.
Entenda a carestia no país
A inércia do país nos rankings de inflação demonstra a ineficácia da política que faz o Brasil ter os juros mais elevados do mundo. No início do ano passado, quando a Selic (taxa básica da economia) estava em 2% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) começou a elevá-la, tendo chegado em sua última reunião, realizada em julho, a fixar a taxa em 13,75% ao ano.
Os juros são um instrumento utilizado pela política monetária quando a inflação sobe por conta de um aumento do consumo. Com um custo maior no crédito para as empresas, os empresários têm menor capacidade de realizar investimentos para expandir negócios e contratar empregados enquanto a população, com a renda mais apertada, compra menos. Em tese, freando a demanda, ela entra em maior equilíbrio com a oferta, porque, com uma procura menor, os preços dos produtos se mantêm controlados.
Contudo, conforme vêm alertando diversos economistas heterodoxos, a atual inflação no Brasil não é resultado de alta na demanda interna e, sim, ocorre pelo desequilíbrio na oferta. O governo Bolsonaro zerou os estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), antes utilizados pelo Estado para regular a oferta de alimentos, assegurando a soberania alimentar no país.
Bolsonaro também manteve a Paridade de Preço de Importação (PPI), política que atrela os combustíveis à variação do dólar. Estas políticas tornaram o Brasil vulnerável às oscilações internacionais, em um momento de pressão internacional de preços, em que há escassez de insumos e produtos agrícolas no mundo por conta da guerra na Ucrânia e em que ainda remanescem da pandemia dificuldades de logística que impedem uma recuperação industrial.