A alta nos preços de alimentos essenciais para a dieta dos brasileiros segue impondo sérias dificuldades para as famílias de renda mais baixa. Somente no mês de julho, o leite, item fundamental para a mesa de grande parte da população, acumulou um aumento de 25,46%, segundo dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
Ao chegar nesse patamar, o leite foi o segundo alimento com maior elevação mensal, atrás apenas da melancia, que subiu 31,26%. Em um ano, o leite aumentou mais de 66%, assim como a batata. Como consequência, seus derivados também saltaram de valor: o leite condensado registrou alta de 6,66%; a manteiga, 5,75%; o leite em pó, 5,36%; o queijo, 5,28% e a margarina 3,65%.
Considerada a variação de outros itens da cesta básica ao longo de um ano, os reajustes também foram bastante salgados, fazendo com que os brasileiros tenham de escolher ou, pior, não consigam se alimentar com o mínimo necessário. Café, óleo de soja, açúcar, pão e margarina tiveram alta de 58%. Em média, a cesta básica subiu 13% no primeiro semestre deste ano.
Piora na alimentação
A soma da alta do empobrecimento com a elevação dos preços durante o governo Bolsonaro vem expondo a população à fome, à insegurança alimentar e à piora na qualidade dos alimentos que consegue consumir.
Um dos tristes reflexos da dificuldade de se adquirir produtos básicos para uma boa alimentação pode ser visto na qualidade do que as crianças consomem. Reportagem da revista Piauí apontou que “desde 2015, as crianças brasileiras nunca consumiram tantos alimentos ultraprocessados como a partir de 2020, quando a pandemia se instalou”.
De janeiro a julho de 2022, diz a publicação, a cada 100 crianças brasileiras de 2 a 4 anos de idade, 92 consomem alimentos desse tipo. É o que mostram os dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, compilados pelo Instituto Desiderata, especializado em nutrição e obesidade infantil”. De acordo com a mesma base de dados, no ano passado apenas 56% das crianças de 2 a 4 anos comeram feijão.
Outro dado importante veio à tona com levantamento feito recentemente pela Horus Inteligência de Mercado. Analisando 500 milhões de notas fiscais entre janeiro e julho deste ano, a empresa concluiu que as pessoas estão consumindo mais produtos prejudiciais à saúde, como os ultraprocessados — que em geral são mais baratos — e menos frutas, legumes e verduras.
O aumento no consumo de biscoitos, por exemplo, foi de 3,5%, enquanto caiu em 2,9% a quantidade de frutas, 1,9% a de verduras e 1,4% a de legumes. Substitutos da carne bovina, como ovos, linguiça, mortadela e frango, também tiveram aumento.
Por Priscila Lobregatte