O receio de que Lula seja eleito e mude a política de preços da Petrobras — e consequentemente a lucratividade de acionistas e investidores — tem gerado movimentação desses setores para garantir lucrar o máximo possível e retardar alterações na condução da estatal que possa prejudicá-los.
Enquanto Bolsonaro tem buscado passar a boiada nas privatizações, inclusive da petrolífera, o que deverá continuar se reeleito, Lula vai em direção oposta. Sua proposta de governo defende a manutenção do caráter estatal da Petrobras, que “terá seu plano estratégico e de investimentos orientados para a segurança energética, a autossuficiência nacional em petróleo e derivados, a garantia do abastecimento de combustíveis no país”. Também aponta que “é preciso preservar o regime de partilha, e o fundo social do pré-sal deve estar, novamente, a serviço do futuro”.
Em outro ponto, as diretrizes estabelecem que o país “precisa de uma transição para uma nova política de preços dos combustíveis e do gás, que considere os custos nacionais e que seja adequada à ampliação dos investimentos em refino e distribuição e à redução da carestia. Os ganhos do pré-sal não podem se esvair por uma política de preços internacionalizada e dolarizada: é preciso abrasileirar o preço dos combustíveis e ampliar a produção nacional de derivados, com expansão do parque de refino”.
A atual política de preços, praticada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) e que encareceu fortemente o valor dos combustíveis e demais produtos para a população brasileira, é a principal responsável pelos lucros astronômicos obtidos nos últimos anos. Em 2021, os lucros somaram R$ 106 bilhões, um recorde. Nos seis primeiros meses deste ano, foram R$ 98 bilhões.
Nesse mesmo período, os dividendos renderam aos acionistas R$ 136 bi, o que corresponde a 138% do lucro líquido da empresa, algo inédito, segundo monitoramento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Entre 1995 a 2019, a Petrobras tinha repassado a seus acionistas, em média, 30% do seu lucro anual, chegando a no máximo 54%, em 1996.
Ao site Brasil de Fato, o economista Sérgio Mendonça, ex-diretor técnico do Dieese destacou que “essa situação dos dividendos tem um componente político. Vai que o Lula ganha e a gestão da empresa muda? Os dividendos serão menores no cenário com a vitória do Lula”.
Com essa preocupação, o conselho de administração aprovou, recentemente, nova diretriz para que os investidores tenham mais poder sobre a definição de preços dos combustíveis.
Segundo O Globo, tem havido interlocução entre representantes da chapa de Lula para tentar “acalmar” o mercado e investidores. “A esses empresários, o PT tem dito que não será dado um ‘cavalo de pau’ no modelo de gestão e nem haverá mudanças ‘traumáticas’. Tem repetido que a gestão terá credibilidade, estabilidade e previsibilidade, termos já usados por Lula e pelo seu candidato a vice, Geraldo Alckmin, em discursos a empresários e repetido nesta terça-feira pelo presidenciável em palestra na Fiesp”, diz o jornal.
Da redação
(PL)