Sem ter atendido pelo Auxílio Brasil a mais de oito milhões de brasileiros que se encontram em situação de pobreza, Bolsonaro fez, nesta segunda-feira (8), um apelo em vão aos banqueiros para que liberem crédito consignado aos beneficiários. As instituições financeiras privadas vêm negando ao governo disponibilizar a modalidade de empréstimo que vem sendo criticada, especialmente, por não limitar os juros que podem ser cobrados. Especialistas preveem taxas de juros três vezes maiores do que as aplicadas aos aposentados e pensionistas do INSS.

O Auxílio Brasil começará a ser pago nesta terça-feira (9). Contudo, de acordo com o jornal O Globo, cálculos feitos pelos economistas Alysson Portella e Sergio Firpo, do Insper, mostram defasagem nas linhas de pobreza (renda per capita familiar de R$ 210 mensais) e de extrema pobreza (R$ 105), fazendo com que mais de 8 milhões de pessoas necessitadas do benefício não tenham direito a ele. Em janeiro de 2004, quando o Bolsa Família foi instituído, as linhas eram, respectivamente, R$ 100 e R$ 50. Com a inflação do período, deveriam estar em R$ 287 e R$ 143. Ou seja, todos os brasileiros com renda familiar de R$ 210 a R$ 287 foram excluídos.

Consignado

Bolsonaro sancionou a lei que permite o empréstimo consignado do Auxílio Brasil na última quarta-feira (3). Para o vereador e líder da bancada de oposição da Câmara Municipal de Salvador (CMS), Augusto Vasconcelos (PCdoB), a medida, na verdade, transfere o benefício concedido aos mais pobres para os bancos. Os empréstimos podem comprometer até R$ 160 por mês dos R$ 600, tendo um impacto negativo na já reduzida renda dos beneficiários.

Augusto Vasconcelos, vereadores – Divulgação

De acordo com Augusto Vasconcelos, com a medida, uma parte dos mais de R$ 100 bilhões que o Governo Federal reservou neste ano para o pagamento do Auxílio Brasil – programa que substituiu o Bolsa Família, vai ser transferido para o setor mais rentável da economia brasileira: os bancos.

“Essa medida adotada pelo governo Bolsonaro vai penalizar a população mais pobre. Permitir o empréstimo consignado para quem recebe auxilio brasil, cujo objetivo é assegurar a alimentação, é aumentar o endividamento de pessoas que já não possuem quaisquer condições de sobrevivência sem a participação do governo”, disse o parlamentar, que ainda relembrou as medidas adotadas pelo atual presidente durante a pandemia que, na época, recusou a renda básica de cidadania de no mínimo R$ 600,00 aprovando um auxílio de apenas R$ 400,00.

“Agora, de maneira demagógica, em meio às vésperas da eleição, visando conquistar votos, Bolsonaro acena para população mais pobre, mas retira esse dinheiro viabilizando o enriquecimento do sistema financeiro. Os bancos vão aumentar o endividamento, porque imagine: nas últimas parcelas do auxílio brasil teremos pessoas que vão receber quase nada aumentando o problema da fome e transferindo para o setor mais rentável da economia brasileira parte desses recursos. Estamos enfrentando essa questão e é necessário que a população seja esclarecida sobre o que está em jogo”, complementou Augusto.