O ex-primeiro-ministro da Alemanha, Gerhard Schröder, defendeu o lançamento e uso do gasoduto Nord Stream 2 para garantir o abastecimento das casas e indústrias alemãs, enquanto sanções impedem o conserto do Nord Stream 1.
Em entrevista, Schröder disse que “a decisão mais fácil seria pôr em funcionamento o gasoduto Nord Stream 2. A sua construção está concluída”.
“Se as coisas piorarem ainda mais, temos este gasoduto, e com as suas duas linhas em funcionamento não teremos problemas de abastecimento das indústrias e domicílios alemães”, continuou.
Uma turbina do gasoduto Nord Stream 1 foi enviada para o Canadá para reparos, mas não pôde retornar ao seu local de uso devido às sanções que foram impostas contra a Rússia depois da guerra na Ucrânia. Com isso, o Nord Stream 1 está sendo utilizado em 20% de sua capacidade.
Segundo a Bloomberg, a Alemanha está gastando sua reserva de gás e muitos locais estão economizando energia, mas o problema poderá se tornar um desastre até novembro. “Grande parte da Europa está sentindo a pressão do aperto da Rússia nas entregas de gás natural, mas nenhum outro país está tão exposto quanto a maior economia da região, onde quase metade das casas depende do combustível para aquecimento”, apontou a Bloomberg.
A Alemanha já voltou a utilizar usinas de carvão para amenizar o problema, mas precisa, na opinião do ex-chanceler Gerhard Schröder, passar a utilizar o gasoduto Nord Stream 2, cuja obra foi concluída em 2021, para não paralisar a produção industrial ou afetar o aquecimento das casas durante o inverno.
“Muitas pessoas, que já agora têm de poupar cada centavo, terão ainda mais dificuldades. Assim, na Alemanha vai surgir uma pergunta: como é que nós estamos sem o gás do gasoduto Nord Stream 2? Porquê?”.
Na falta de gás, o governo alemão poderia decretar um estado de emergência e, assim, passar a escolher quais locais receberiam o produto. Especialistas alemães se preocupam com a possibilidade de uma desindustrialização do país devido à falta de segurança energética.
A BASF, uma das maiores indústrias químicas do mundo, disse que pode cortar a produção de gás de amônia, essencial para a produção de fertilizantes, pois o negócio não é mais rentável devido ao aumento no preço do gás.
“Se a BASF deixar de receber gás, terá um grande problema, enquanto nós, alemães, teremos um problema enorme”, avaliou Schröder.
Segundo a Gazprom, “o regime sanções no Canadá, na União Europeia e na Grã-Bretanha, bem como as inconsistências na situação atual em relação às obrigações contratuais da Siemens [fabricante de turbinas] impossibilitam a entrega” da turbina.
Durante entrevista ao canal de televisão RTL, o ex-chanceler alemão disse que as negociações entre a Rússia e a Ucrânia devem ser retomadas para que haja paz na região. Ele ressaltou que a Rússia está disposta a negociar e demonstrou isso através da liberação de exportação de grãos pelo porto de Odessa.
“Não quero tirar o papel de mediador de ninguém no governo. Mas por que eu deveria parar as negociações que são legalmente possíveis e não ameaçam causar problemas para mim e minha família?”.
“A boa notícia é que o Kremlin quer resolver o conflito através de negociações. Afinal de contas, durante a crise já foram conduzidas conversas entre a Ucrânia e a Rússia, por exemplo as de Istambul, em março”, disse.
Gerhard Schröder afirmou que um foi um sucesso a negociação para exportação de grãos e “talvez você possa expandir isso lentamente para um cessar-fogo”.
As forças ucranianas colocaram minas marítimas na região do porto de Odessa, impedindo com que qualquer navio atracasse. Nas negociações feitas em Istambul, na Turquia, ficou estabelecido que a Ucrânia deveria retirar as minas para liberar a navegação. Na segunda-feira (1), o primeiro navio com 26 milhões de toneladas de milho saiu do porto.
O ex-chanceler acredita que para haver paz, devem haver “concessões de ambos os lados. Foi “um grande erro difamar possíveis concessões da Ucrânia como uma ‘paz ditada’ pela Rússia com antecedência”, avaliou.
Sobre o Donbass, Schröder reconhece que é um tema complicado, pois a Ucrânia “aboliu o bilinguismo”, isto é, proibiu a língua russa na região onde a maior parte da população falava russo. Ele disse que deve ser buscada uma solução baseada na autonomia desses territórios.