Enquanto cresce rapidamente a adesão a manifesto em defesa da democracia e do sistema eleitoral — que já conta com pelo menos 300 mil assinaturas, o dobro do registrado até a quarta-feira (27) — Jair Bolsonaro (PL) tenta desqualificar o documento, classificando-o de “cartinha”. Porém, tal menosprezo pode ser uma tentativa de esconder uma possível preocupação com a musculatura que a iniciativa vem adquirindo.

Lançada por um grupo de ex-estudantes da Faculdade de Direito da USP, a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” tinha 3 mil assinaturas até ser tornada pública na terça-feira (26). Em 24 horas, as adesões saltaram para 150 mil e dobraram de ontem para hoje. O incômodo causado pela carta pode ter motivado os cerca de 2 mil ataques hackers ao site que recebe as assinaturas.

Em convenção do PP que formalizou o apoio do partido do centrão à reeleição do presidente, ocorrida nesta quarta-feira (27), Bolsonaro declarou: “Vivemos num país democrático, defendemos a democracia, não precisamos de nenhuma cartinha para dizer que defendemos a democracia”.

No entanto, conforme apuração do colunista do UOL, Tales Faria, a campanha de Bolsonaro estaria “alarmadíssima”, para usar termo do jornalista, com a proporção que a carta ganhou. “Ela é um ponto de inflexão na campanha, pois mostrou que, se em 2018 a elite chegou a apoiar Bolsonaro, dessa vez não tem conversa. Ele agrediu a democracia e a elite brasileira largou o Bolsonaro”, avalia Faria.

A reação a Bolsonaro tem aumentado desde que o presidente convocou embaixadores de vários países para reunião no dia 18 e usou a estrutura governamental para, seguindo seu script golpista, tentar novamente desqualificar, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro.

Ampla mobilização pela democracia

O manifesto — assim como outro que está sendo elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com o apoio de várias entidades — tem conseguido ampla adesão da sociedade e em especial  de representantes do empresariado, intelectuais, artistas, juristas, lideranças de movimentos políticos e sociais, entre outros segmentos. Ambos os documentos serão lidos no dia 11 de agosto, na sede da Faculdade de Direito da USP. Nessa data, em 1977, o professor Goffredo da Silva Telles Junior leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do regime militar e o estado de exceção.

Para o mesmo dia, estão sendo convocados atos por todo o país, organizados pelo movimento “Fora Bolsonaro”, que reúne diversos movimentos sociais, sindicais e políticos. O mote será a defesa da democracia e de eleições livres. Uma segunda manifestação está marcada para o dia 10 de setembro, em contraponto ao chamamento golpista feito por Bolsonaro na convenção do seu partido, no domingo (24), em relação ao 7 de setembro.

Outra importante iniciativa de repúdio ao golpismo e em defesa da democracia é o ato organizado pelo movimento Direitos Já, a ser realizado no Rio de Janeiro no dia 1º/08, com a presença de representantes de ao menos 11 partidos.

Para ler e assinar o manifesto, clique aqui. 

 

Por Priscila Lobregatte