A Robb Elementary School tem pouco menos de 600 alunos, da segunda, terceira e quarta séries e, segundo o chefe de polícia do distrito escolar independente Uvalde Consolidated, Pete Arredondo, o atirador, que acabou morto pela polícia, agiu sozinho. Uvalde tem 16 mil habitantes. A escola fica em um bairro predominantemente residencial de casas modestas.

Mais cedo, o Uvalde Memorial Hospital disse que 13 crianças foram levadas para lá. Outro hospital relatou que uma mulher de 66 anos estava em estado crítico. Ao menos dois policiais também ficaram feridos. A polícia do Condado de Uvalde não divulgou qualquer motivação para o crime, que forçou parte da cidade a um confinamento no início da tarde desta terça-feira (24).

O tiroteio no Texas marca o 27º tiroteio em escolas nos Estados Unidos em 2022.

O governador Greg Abbott identificou em uma entrevista o atirador como Salvador Ramos, que atirou e matou “horrivelmente, incompreensivelmente, 14 crianças e um professor”. Ramos, que cursa o curso secundário, era morador da comunidade e entrou na escola com um revólver, e possivelmente um rifle. Antes de arremeter contra a escola, ele teria atirado na própria avó.

Foi o tiroteio em escola mais mortal da história do Texas e ocorreu quatro anos depois que um atirador matou 10 pessoas na Santa Fe High School, na área de Houston. O tiroteio em Uvalde aconteceu menos de duas semanas após um supremacista branco ter aberto fogo em um supermercado em Buffalo, Nova York, matando a esmo 10 clientes e funcionários, praticamente todos afro-americanos, caracterizando um crime de ódio.

‘Doença americana’

Em suma, mais um triste episódio da ‘doença americana’ – os tiroteios em massa raivosos contra pessoas a esmo, inclusive em escolas, inclusive com crianças como vítimas, mas também em cinemas, supermercados e até locais de trabalho.

Como sempre nesses casos que se repetem nos EUA ano após ano, volta à tona a discussão sobre a insana quantidade de armas – inclusive fuzis semiautomáticos – que todos os anos é adquirida por norte-americanos. E sobre o papel do Cartel do Rifle (NRA) para a disseminação desenfreada de armas nos EUA, com ajuda – bem remunerada – de parlamentares republicanos e de blogueiros de extrema direita.

Mas, como já observou o cineasta Michael Moore, que examinou o problema no seu aclamado filme “Tiros em Columbine”, o vizinho Canadá igualmente tem um número exorbitante de armas em posse de indivíduos, mas nem por isso ali ocorrem os tiroteios em massa vistos nos EUA, país de notório belicismo e inclinado à continua invasão de outras nações mundo afora.

O presidente Joe Biden, ao voltar da viagem ao Indo-Pacífico para apregoar sua ameaça de guerra contra a China e aliciar cúmplices, já foi informado da nova chacina em uma escola primária norte-americana, segundo a porta-voz da Casa Branca. Só em 2021 houve 34 tiroteios em escolas dos Estados Unidos.

Massacre ritualizado

Em última instância, o que precisa ser respondido é o que leva indivíduos a responderem às frustrações, com um ritual de chacina contra desconhecidos, sem demonstrar a mínima empatia por quem quer que seja. Cuja resposta, além do estímulo à violência glamourizado no cinema e na mídia norte-americana e da facilidade de acesso a armas letais, está na própria história do país.

História fundada na escravidão e na guerra de extermínio aos indígenas, mitologicamente descrita como a ‘conquista do Oeste’. A que se sucederam as incursões “dos palácios de Montezuma às praias de Tripoli”, como exalta o hino dos marines, até às “guerras sem fim” do século 21, passando pelas Filipinas, Coreia, Vietnã, Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria.

Após um século de chacinas, como em Mi Lai e tantos outros lugares, as galinhas voltam para ‘ciscar em casa’ – assim como a tragédia, uma expressão tipicamente norte-americana.