Por João Augusto de Lima Rocha*

 

01

Ano que vem, são 100 anos

Que o Partido vai fazer,

E também tem eleições

Que precisamos vencer,

Pra derrotar os nazistas

Que aqui tomaram o poder

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“Comunista do Brasil”

Tá no nome do Partido,

desde que ele foi criado,

E sempre esteve mantido,

Mas PCB foi a sigla,

Até ser reconstruído.

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Hoje a principal tarefa

É encarar o desafio

De por Bolsonaro fora,

Unindo todo o Brasil,

Pois foi a sua inépcia

Que matou  600 mil.

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Lembro que nossa estratégia

Exige a revolução,

Rumo ao socialismo,

Que é a única solução,

Pra por fim às injustiças

E acabar com a exploração.

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No 15º Congresso

Que o Partido agora faz,

Neste difícil momento

Que o mundo luta por paz,

Nossa Região Nordeste

Aqui fala pras demais.

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Do que há em nosso Nordeste

Agora vamos falar,

Exaltando suas lutas

E a cultura popular,

Que faz o sangue vermelho

Forte no corpo pulsar.

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Muitos foram os movimentos

Ao longo de nossa história,

Ocorridos no Nordeste,

Que perseguiram a vitória,

Contra a colonização

E a escravidão inglória:

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A Revolução dos Búzios,

Depois a Pernambucana,

Confederação do Equador,

E a grande luta baiana,

Pra selar a independência,

Que o Dois de Julho proclama.

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No Maranhão, os Balaios,

Longa revolta fizeram

Na qual até as guerrilhas

Para a luta eles trouxeram,

Já os Malês, na Bahia,

A escravidão expuseram.

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Revolta que, no Nordeste,

Tem caráter singular,

É a Guerra de Canudos,

Na República, a começar,

Quando o Exército perdeu

Três vezes, até ganhar.

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Foi Antonio Conselheiro,

Quem camponeses juntou,

Pra rezar e produzir,

Sem ter patrão ou senhor,

E só com o Exército todo,

O governo o derrotou.

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Foram muitos que tombaram,

Em nome da liberdade,

E na luta  ensinaram

A grandiosa verdade:

Que o Nordeste continue

A preservar a unidade.

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A cultura nordestina,

De imensa diversidade,

Faz com que o povo se apegue

À terra, com bem vontade,

De modo que quem sai dela,

Fica com forte saudade!

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Amo os  versos de cordel

E louvo a xilogravura

Que aparece nos folhetos

Da bela literatura;

Também louvo os repentistas,

Que cantam a poesia pura.

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Um autor que aqui destaco,

É o cordelista maior,

Leandro Gomes de Barros,

Que apanhou de fazer dó

Da polícia, em Pernambuco,

E logo após, morreu só.

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Nascido na Paraíba,

Morreu aos 52;

Drummond o admirava,

E o nomeou, bem depois,

Nosso verdadeiro príncipe

dos poetas, que compôs:

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“Nós temos cinco governos

O primeiro, o Federal,

O segundo o do Estado,

O terceiro, o municipal,

O quarto é a palmatória

E o quinto, o velho punhal”.

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Na música, Luiz Gonzaga,

Com sua voz dignifica

Toda a arte nordestina,

De modo que o freguês fica

De cara logo animado,

Se sua sanfona pinica.

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Dorival Caymmi é outro,

E também lembro Elomar,

Que encarnaram em si

A música de seu lugar,

E João Gilberto, o completo,

Que brilha em todo lugar.

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É recheado de arte

Todo o fazer nordestino,

Desde o aboio do gado

À arte de Vitalino

Cujos bonecos de barro

Cada vez mais tão saíno.

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Lembro o tambor de crioula,

Maracatu, frevo, reis,

Maculelê, capoeira,

E depois digo mais seis:

Torém, forró e  ciranda,

Marujada, e faltam três:

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Cavalo piancó e coco,

Por fim o samba de roda,

Que com o bumba meu boi,

Em todo o Brasil são moda,

Pois grande é a variedade

Que seu fazer acomoda.

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Na culinária, o Nordeste,

Faz a junção genial,

Da indígena e a africana

Com a tradição local,

E inda junta a influência

Que vem lá de Portugal.

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Na indumentária, também,

O Nordeste é original,

Em que Lampião, no couro,

Deixou marca sem igual,

Conferindo à Região

Identidade visual.

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Junto a Maria Bonita,

Lampião desafiou

O poder constituído,

Que muita tortura usou

Contra quem lhe dava apoio,

No tempo em que ele aprontou.

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Devido à seca inclemente,

O nordestino emigrava,

Buscando trabalho e renda,

Para ajudar quem ficava,

Mas Lula muda a política,

E  o Nordeste destrava.

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Lula foi um retirante

Que saiu num pau de arara,

Indo morar em São Paulo,

Com a coragem e a cara,

E quando na Presidência,

O Brasil foi jóia rara.

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No cinema brasileiro

O Nordeste faz figura,

Com o baiano Glauber Rocha

Dominando essa cultura;

Ceará e Pernambuco,

Nisso tem hoje estrutura.

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O Ceará se desponta

Acelerado, no humor,

Com nomes nacionais

Que o Brasil consagrou,

Sendo o grande Chico Anísio

Aquele que mais brilhou.

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Na música, Caetano e Gil

Despontaram na Bahia,

Torquato, no Piauí:

A Tropicália os unia;

Djavan, nas Alagoas,

Belas canções produzia.

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Suassuna, em Pernambuco,

Criou o Armorial,

Movimento nordestino

De caráter bem geral,

Que muito valorizou

O criar regional.

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Vindo desse movimento,

E honrando a tradição,

Musical de Pernambuco

Que nos dá grande emoção,

Temos  Antonio da Nóbrega,

Com bela e múltipla expressão.

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Entre a poesia e a música,

Vindo lá do Assaré,

Há o imenso Patativa

Que no Nordeste tem fé;

E ainda, do Ceará

O grande Belchior é.

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Começou na Paraíba

A nossa xilogravura,

Lá na Serra dos Teixeira,

Terra da poesia pura,

Que foi berço do cordel

Desde a capa à estrutura.

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Pernambuco projetou

Grandes nomes nessa arte,

O maior, que está vivo

E expõe por toda parte,

É o universal Jota Borges,

Que o Nordeste comparte.

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Agora eu vou lembrar

Nomes de revolucionários

Que o Nordeste projetou

Para um maior cenário,

Na cultura e  na política

Do pelejar proletário.

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Começo com o Rei Zumbi,

Do Quilombo dos Palmares,

No Estado de Alagoas,

Que aos escravos deu lares,

Mediante renhida luta,

Com princípios militares.

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Lembro e reverencio

Dandara, a companheira

de Zumbi, com quem forjou

A estrada verdadeira

Pra extinguir a escravidão

E sua herança trapaceira.

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Uma luta valorosa

Que agora vou resssaltar,

Foi a da escola pública

Em que um baiano exemplar,

De nome Anísio Teixeira

No Brasil veio liderar.

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Tio de Haroldo Lima,

Que todos sabem quem é,

Anísio foi quem lhe deu,

Na casa de Caetité,

Os primeiros rudimentos

Do que a política requer.

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Formado em Engenharia,

Haroldo participou

Da criação da Coelba

Que a Bahia energizou,

Depois, no PcdoB,

Grande legado deixou.

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Em Pernambuco, dois Freires

Um com y outro com i,

Projetaram o Nordeste

Para bem longe daqui;

Um, Gilberto, o outro Paulo,

Com cada qual de per si.

43

No ano 46,

Dos anos 1900,

Os comunistas marcaram

Alguns muito belos tentos,

Elegendo deputados

Pra o nosso parlamento.

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Era o tempo do Pós-Guerra

E, derrotado o nazismo,

O Estado Novo cai,

Legal fica o comunismo,

Que vai pra Constituinte,

Com grande força e otimismo.

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Quatorze foram os eleitos,

E mais o  senador Prestes;

Fazendo grande figura,

Nossa Região Nordeste

Conseguiu eleger quatro,

Mediante esforço inconteste.

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Um deles foi Jorge Amado,

Outro, Carlos Marighella,

Com mais Gregório Bezerra,

E o quarto que se revela:

Maurício Grabois, o herói

Que o Araguaia desvela.

47

No Araguaia, o Partido

A guerrilha organizou,

Militar e politicamente,

A ditadura enfrentou,

Cumprindo a dura missão

Que honra a quem nela entrou.

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Muitos heróis lá lutaram

Visando a organizar

O povo, politicamente,

Para poder derrotar

A ditadura fascista

Que derrubou João Goulart.

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Alguns dos que lá morreram,

Pelas mãos da ditadura

Eram aqui do Nordeste,

Com formação e estrutura

Para essa missão política

De enorme envergadura.

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Em favor dos proletários,

Que sofrem vãs privações,

O PCdoB é o canal

Para promover ações

Que não só conquiste ganhos,

Mas impeça reversões.

 

Salvador, 13 de outubro de 2021

 

*João Augusto Lima Rocha é professor, cordelista e estudioso da vida e da obra de Anísio Teixeira.