O governo Biden anunciou no sábado (18) que irá acelerar as deportações para o Haiti e outros lugares de milhares de migrantes, a maioria haitianos, que estão apinhados debaixo e em torno de uma ponte em condições miseráveis, na cidade texana fronteiriça de Del Rio.

Segundo o comunicado do Departamento de Segurança Interna (DHS, Homeland), irá “garantir transporte adicional para acelerar o ritmo e aumentar a capacidade de voos de remoção para o Haiti e outros destinos no hemisfério nas próximas 72 horas”.

A Casa Branca – assevera – “instruiu agências americanas apropriadas para trabalhar com o governo haitiano e outros governos regionais para fornecer assistência e apoio aos repatriados.”

Para não deixar dúvidas, o DHS explicou que “a maioria dos migrantes continua a ser expulsa” sob a autoridade do Título 42, e aqueles que não podem ser deportados usando essa política de saúde pública “e não têm uma base legal para permanecer serão colocados em procedimentos de remoção acelerada.” Com esse objetivo, o DHS fechou o Porto de Entrada Del Rio e levou centenas de agentes e oficiais para a área.

Ou seja, Biden vai continuar a política iniciada pelo antecessor Trump de expulsar a jato requerentes de asilo, invocando falsamente uma seção da Lei de Segurança Pública. Pior: na quinta-feira um juiz federal ordenou que o governo sustasse essa manobra, mas a Casa Branca já anunciou que irá apelar.

Note-se que o Haiti acabou de sofrer novo terremoto e de ser atingido por uma tempestade tropical e, desde junho, está praticamente sem governo, depois do assassinato do presidente Jovenel Moise. E é para lá que o bondoso Biden quer mandar essa gente desesperada e desamparada a toque de caixa.

Até mesmo integrantes do partido de Biden têm reagido. O senador Ed Markey assinalou no Twitter que “o Haiti ainda está se recuperando de Covid, instabilidade política, um recente terremoto e uma tempestade tropical”. “Devemos nos concentrar em um esforço humanitário, não deportar as pessoas de volta para um ambiente instável.”

“Que o ICE continue a realizar as deportações em massa de nossos vizinhos haitianos – com o Haiti em meio a sua pior crise política, de saúde pública e econômica – é cruel e insensível”, desabafou ao The Hill a deputada Ayanna Pressley, de Massachussets, estado que tem a terceira maior diáspora haitiana.

“Horas depois do terremoto de magnitude 7,2, o presidente Joe Biden divulgou um comunicado dizendo que os Estados Unidos eram um ‘amigo’ do Haiti. Um ‘amigo’ não inflige continuamente dor a outro amigo”, condenou Guerline Jozef, co-fundador e diretor executivo da Haitian Bridge Alliance .

“E, no entanto, hoje, apenas um mês após este terremoto e tempestade devastadores que resultaram na morte de mais de 2.200 haitianos, feriram 12.000 pessoas, danificaram ou destruíram 120.000 casas e deslocaram centenas de milhares de pessoas, o governo enviou um avião cheio de famílias para o Haiti sob o Título 42, incluindo crianças menores de três anos, sem lhes oferecer proteção legal e a oportunidade de pedir asilo”, acrescentou Jozef.

Uma semana após a morte de Moise, o secretário do DHS, Alejandro Mayorkas, anunciou que os migrantes haitianos que tentassem viajar para os EUA de barco seriam interceptados pela Guarda Costeira e devolvidos ou enviados a um terceiro país para reassentamento.

Para Clara Long, da Human Rights Watch, “é hora de parar imediatamente todos os voos de deportação e expulsão para o Haiti. E – finalmente – nos comprometermos com uma abordagem justa e acolhedora na fronteira.” Essa política em curso na fronteira – sublinhou – “é anti-negros, promete usar procedimentos injustos e é, francamente, uma decepção de enfurecer”.