O PCdoB de Fortaleza lançou 20 candidaturas de mulheres a vereadoras, das quais 16 se declaram pretas ou pardas. As principais bandeiras defendidas por elas são o debate com a sociedade das razões do preconceito e da discriminação que a maior parte da população de Fortaleza sofre, por ser negra e pobre, e a defesa de políticas públicas e afirmativas para combater o racismo estrutural.
Com o número 65786, Aurélia é uma dessas candidatas. Legitimada por 17 anos no movimento de bairros, defendendo especialmente as comunidades do Siqueira e dos bairros vizinhos, Aurélia traz a experiência de fundar a Amorsu (Associação de Moradores dos Residenciais Sumaré, Loteamento Paraíso Verde e Adjacências). Já os anos como Delegada e Conselheira no Orçamento Participativo de Fortaleza, representando o Siqueira, deram a ela, a confiança e o apoio de sua comunidade.
“Eu venho da luta do movimento comunitário. É dele que eu venho… E são tão poucas as mulheres negras que estão à frente de movimentos sociais…” Avalia Aurélia, lembrando a importância de candidaturas de negras. “A gente consegue, ao mesmo tempo, brigar e dialogar para reivindicar nossos direitos”, completa.
Alice Viana (número 65181) é uma das candidatas mais jovens do partido. Aos 18 anos já traz a vivência do movimento estudantil quando foi vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundarista (UBES). Integrante daUnião da Juventude Socialista (UJS-Fortaleza), Alice tem como referência a militância de negras. Ela quer ser vereadora para fortalecer a luta contra a opressão que as mulheres, em especial as negras, sofrem.
“A gente é o segundo país mais negro, mas é também muito racista! Uma candidatura negra é fundamental… E quando a gente se elege, renova os quadros políticos. A mulher negra revoluciona a política”, defende. “Nós queremos construir uma sociedade que nasça de dentro da periferia, que venha do povo. Para isso, precisamos ocupar os espaços de poder”, conclui.
Neta: Mulher trans, negra e periférica
“Foi a luta pela vida das mulheres trans, de negras e negros pobres, das mulheres em geral e do segmento LGBTQIA+ que me inspirou. Foi a luta pela minha própria vida que me fez ser candidata a vereadora.”, diz Neta, com voz firme e ao mesmo tempo suave. Neta tem razão, o Brasil é o país que mais mata trans no mundo, inclusive, mata mais do que os cinco países que tratam, com pena de morte, quem é LGBTQIA+.
“Fortaleza e o Ceará disputam, com Salvador (BA) e São Paulo (SP), o primeiro lugar onde se matam mais LGBTQIA+. Diante deste cenário, é de responsabilidade de todes cuidar da vida dessas pessoas, especialmente das mulheres trans que sofrem muito mais abandono, solidão, discriminação e exclusão.” Diz Neta, alertando ainda o Movimento Negro que, segundo ela, precisa dar mais atenção às mulheres cis e trans.
Neta é educadora social, estudante de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e trabalha em instituições que acolhem crianças abandonadas e em situação de risco e vulnerabilidade social. Com o número 65018, Neta incomoda só pelo fato de ser candidata. “Sou trans, negra, periférica e estudante. Estar no processo eleitoral, fora do lugar comum dos discursos de ódio ou de chacota, fora dos índices de assassinatos ou da marginalidade em que querem manter as trans negras e pobres, é dar visibilidade à nossa luta.”
Neste ano, 49 militantes se candidataram pelo PCdoB Fortaleza à Câmara Municipal. Desses, 38 são negros ou pardos (22 homens e 16 mulheres). Na chapa para a Prefeitura, o candidato a prefeito, Anízio Teixeira, se declara pardo. Este quantitativo representa bem a população da capital cearense.
Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a população de Fortaleza era composta por: 1.403.292 de pardos (57,23%), 110.811 de negros (4,52%); 901.816 de brancos (36,78%), 33.161 de amarelos (1,35%) e de 3 071 indígenas (0,13%). Já entre 2012 e 2018, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) apontou um crescimento de 82% da população que se declara negra. Este aumento se dá especialmente aos processos de identificação e pertencimento, a partir do maior acesso a políticas afirmativas.
Fonte: Klycia Fontenele/ Metamorfose Comunicação
(MD)