Cerca de 200 médicos alertaram o prefeito de Jacksonville, Flórida, Lenny Curry, que a realização na cidade da convenção que oficializará a candidatura à reeleição de Donald Trump é “extremamente perigosa”, justo no momento em que a Flórida é um dos focos da Covid-19 nos EUA.

Permitir que mais de 40 mil pessoas de todo o país, incluindo jornalistas e manifestantes anti-Trump, venham a Jacksonville é “uma provocação inequívoca à doença, previsivelmente prejudicial e desrespeitosa em termos médicos para os moradores da cidade e ao resto do país”, afirmaram os médicos, em carta divulgada neste domingo no site “firstcoastnews.com” e em outras mídias.

Os signatários enfatizam que a Convenção Nacional Republicana deveria ser adiada da data prevista, 27 de agosto, ou ter sua capacidade reduzida significativamente, e solicitaram ao prefeito Curry que ordenasse o uso obrigatório de máscaras faciais na cidade antes dessa data, como outras da Flórida fizeram.

Inicialmente a Convenção Nacional Republicana seria realizada em Charlotte, na Carolina do Norte, mas diante da recusa do governador Roy Cooper de aceitar um evento de massa, em razão da pandemia, Trump resolveu mudá-la para a Flórida, governada por um republicano, e escolheu Jacksonville, cujo prefeito aceitou.

Pesquisa realizada pela Universidade do Norte da Flórida (UNF) revelou esta semana que 58% dos moradores de Jacksonville se opõem à realização do evento final da Convenção Nacional Republicana na cidade, principalmente por medo da propagação da Covid-19.

Na carta ao prefeito e ao conselho municipal, os médicos enfatizaram que o número de infecções e hospitalizações continua crescendo na Flórida, que agora é um dos focos da pandemia nos EUA. Ontem, ocorreram 9.585 novos casos de Covid-19 na Flórida, um recorde que elevou para 132.545 o número de casos acumulados desde 1º de março.

Juntamente com Texas, Califórnia, Carolina do Sul, Nevada, Geórgia e Arizona, a Flórida vem sofrendo a reincidência do coronavírus, em meio à reabertura econômica e ao relaxamento das normas de distanciamento social.

Os médicos também lembram que, infelizmente, ainda “não existe vacina ou tratamento particularmente eficaz contra esse novo vírus” e que as autoridades sanitárias recomendam manter uma distância física de 1,80 metros entre pessoas, usando máscara e não permitindo que grupos de mais de 50 pessoas, principalmente em espaços fechados.

Eles acrescentam que “para algumas pessoas, as máscaras se tornaram uma declaração política”, o que na sua opinião é “irracional” e propicia a “divisão” – uma referência à recusa de Trump de usar máscara e às crendices da turba que o exalta.  “O inimigo é o vírus, não outras pessoas”, sublinham.

Segundo os médicos, celebrar o ato republicano em Jacksonville resultará em “um aumento de hospitalizações, problemas de saúde a longo prazo e mortes”.

TULSA: SEM DISTANCIAMENTO

A CNN revelou que membros da equipe de Trump removeram adesivos que determinavam distanciamento social, horas antes do comício em Tulsa, Oklahoma, no último domingo.

Vídeo obtido pelo Washington Post mostra dois homens de terno e máscara que faziam parte da equipe removendo os adesivos com dizeres de “Por favor, não sente aqui”.

Os gerentes do Bank of Oklahoma Center, onde o comício aconteceu, informaram ter comprado 12 mil adesivos para cumprir com o distanciamento social e garantir a segurança dos frequentadores do espaço em tempos de coronavírus.

Ao Post uma fonte sob anonimato relatou que membros da equipe do presidente pediram que os adesivos fossem retirados no dia do comício, até o meio da tarde, antes do público chegar. O BOK tem 19 mil assentos.

Além de estarem desrespeitando as normas contra a disseminação da pandemia, a ação da equipe de Trump demonstra que eles estavam acreditando piamente que ia ter gente saindo pelo ladrão.

O que não ocorreu em parte graças à garotada do K-Pop, que resolveu se divertir solicitando ingresso no comício, só pra ter o prazer de ver o Trump de cara no chão, depois de quase 1 milhão de supostos ‘aderentes’.

No máximo um terço da capacidade do local foi ocupado, com as arquibancadas superiores inteiramente vazias, onde sentou um único fã – ou um gozador? – empunhando um cartaz de MAGA (Make America Great Again).

Não foi por falta de espaço na esvaziada arena que a torcida de Trump se amontoou, desrespeitou as normas de distanciamento e se roçou, para ficar mais perto do presidente reality-show. Como mostram fotos e vídeos da efeméride.