Vamos chegar em meados de julho de 2020 ao marco de 2 milhões de brasileiros infectados e cerca de 70 mil perdas de vidas pela COVID-19. Sentimos tristeza, indignação e impotência pela falta de suficiente proteção do Estado, num mar de desigualdades sociais e regionais, com o insuficiente combate à pandemia: o governo federal sabotou o enfrentamento da situação e é reconhecido como o pior do mundo em organização, planejamento e centralização das medidas.
Por Walter Sorrentino*
A curva continuará ascendente antes de começar a declinar; a onda será prolongada. É preciso dizer não à naturalização da pandemia. Ainda há muito que fazer: reforçar o SUS, apoiar o trabalho de governadores e prefeitos, os trabalhadores e empresas de todos os tipos, os mais necessitados. Deverá haver sub-ondas, facilitadas pelos descuidos, pelo que se deve repor o convívio social com testagens seletivas, identificar e isolar os focos, isolamentos intermitentes e ponderação. A vacinação, melhor solução, ainda demorará.
Vai ser prolongado o efeito da economia em depressão (já é o sexto ano de retrocessos), a maior recessão de toda a história do Brasil; podemos chegar a um PIB com crescimento negativo de 9%, desemprego formal e precarização que neste momento já criou 8 milhões de novas dispensas de trabalhadores, com mais de 50% da população economicamente ativa sem contratos de trabalho. O SUS seguirá sobrecarregado, também com as demais doenças que tiveram menores cuidados no período.
E as eleições? A pergunta se impõe por vários lados. Elas ocorrerão no transcurso desse quadro e em meio a muitas singularidades jamais vividas. O pleito foi adiado, mas é incerto responder onde se situarão as expectativas populares, que anseios de mudanças manifestará a população, como derrotar o bolsonarismo, fortalecer a política de frente democrática e acumular forças para 2022.
No Brasil, ir às urnas, mesmo em eleições municipais, sempre é momento importante, a hora em que todos os cidadãos e cidadãs buscam informações, pensam mais em como garantir seus interesses e os da cidade em que vivem. Olha-se para a experiência vivida, mas com a vontade posta num futuro melhor.
As crises que se cruzam no Brasil – a sanitária, a econômica-social e a política-institucional – estarão presentes como um espectro sobre todas as coisas. Serão ponderados sucessos e insucessos no seu enfrentamento pelas autoridades, o quanto se mitigou a situação social das camadas mais carentes, o que aconteceu com as famílias dos eleitores em termos de emprego e renda.
E, ainda, por quais caminhos recuperar o terreno perdido nesses meses e ter melhor qualidade de vida.
Esse contexto pôs em evidência quase que um programa completo para ir ao encontro da maioria da sociedade. Duas coisas são bem determinantes e concentradas, o SUS e os empregos, a vida e a economia. A saúde pública (junto com educação e segurança pública) ocupa, de longe, o primeiro posto das preocupações dos brasileiros em todo o país. Precisa mais recursos – o Congresso precisa pôr fim ao teto de gastos, e o orçamento, reformulado – e melhor gestão, desde atenção básica até atendimento especializado. Os municípios precisam ser parte desse esforço. Nada como recuperar a rede de atenção primária de saúde para seguir enfrentando a pandemia da COVID-19, porque pandemia não se vence nos hospitais.
Criação de empregos lida com uma abordagem macroeconômica mais complexa. Retomar a economia abandonando as políticas de austeridade e Estado fiscal, usar o Banco Central para financiar o Tesouro para orçamentos públicos que contemplem renda básica e auxílio-desemprego em carga elevada, investimentos públicos principalmente, e maiores recursos federativos. Tudo ao contrário do que faz hoje o governo Bolsonaro.
Mas os municípios podem e devem ter, por sua própria conta, programas de geração de empregos de emergência, com obras públicas, zeladoria das cidades, impulso às micro, pequenas e médias empresas, e inclusão social. Enfim, também a eles cabe fazer a roda da economia girar. A saúde também pode ser um motor disso. E precisam ter força política para reivindicar projetos dos governos estaduais e federal (por exemplo, saneamento e cuidado com o meio ambiente, que são realmente saúde pública, e também a segurança pública).
Se o resultado eleitoral vai ou não alterar o quadro de forças político-partidárias e o panorama nacional, está por se disputar. Envolve luta diária para relacionar os problemas do cotidiano do povo e dos segmentos produtivos com o desastre nacional que é o governo Bolsonaro. Envolve criatividade para campanhas amplas e mobilizadoras, mesmo que em convívio social mais restrito. As redes serão a praça pública dos debates, não obstante o peso decisivo que terão a propaganda eleitoral na TV e a máquina pública na campanha.
Há um espaço novo para o voto de opinião de largas camadas que compreenderam ser necessário unir amplas forças para isolar e derrotar esse governo, para salvaguardar vidas e a democracia, pôr as pessoas em primeiro lugar em cidades democráticas e modernas. Mas é muito importante responder ao eleitor o quê, afinal, candidato ou candidata, fez por ele e se dispõe a fazer, para melhorar a sua qualidade de vida e a cidade.
Direta ou indiretamente, haverá um plebiscito sobre o governo Bolsonaro, e para ele podem se unir forças heterogêneas para garantir sua derrota nas cidades mais importantes, pelo menos no segundo turno das eleições.
Afinal, “Somos 70%” os que compreendemos ser esse um passo decisivo, para enfrentar a pandemia e a retomada da economia, para ter mais democracia, não menos, mais direitos sociais, não menos – sobretudo às mulheres e aos que sofrem todo tipo de discriminação.
A eleição se liga, portanto, a um movimento: Fora Bolsonaro! por uma ampla frente democrática, pela salvação nacional.
O PCdoB mobilizará sua integridade política e competência comprovadas nas lutas populares e nos governos. Precisa de expressiva vitória para pôr no jogo uma candidatura presidencial em 2022, sair reforçado no cenário político em prol do Brasil, da democracia e do povo.
*Vice-presidente do PCdoB e secretário de Política e Relações Internacionais do partido.