A expectativa dos economistas é de que continue em trajetória ascendente a já extremamente alta inflação do governo Bolsonaro. Após mais de um mês sem ser divulgado por conta da greve dos servidores do BC, o boletim Focus mostrou que os analistas agora esperam que a inflação oficial do país, medida pelo IPCA, atinja 8,89% em 2022 ante uma previsão anterior inferior em um ponto percentual. “A inflação é preocupante e está saindo do controle”, afirmou ao Portal Vermelho o professor do Instituto de Economia da UFRJ André Modenesi, para o qual a política monetária não está tendo eficácia sobre os preços, de forma que o país está sofrendo um retrocesso à situação da carestia da década de 1980.

“Nós só não estamos como nos anos 1980 porque, atualmente, o país não tem dívida em dólar, mas estamos quase tão mal quanto na época do (ministro da Fazenda, Dilson) Funaro, e estamos prestes a reviver esta situação contra a qual lutamos tanto desde o Plano Real”, afirmou. Além do país da hiperinflação, na década de 1980 o Brasil ficou marcado por ter decretado uma moratória da dívida externa.

André Modenesi

De acordo com o economista, as sucessivas elevações pela autoridade monetária na taxa de juros básica da economia, a Selic, além de não terem efeito sobre a carestia, elevam o custo da dívida pública para o país. “É o pior dos mundos. É uma medida que não resolve o problema da alta de preços, porque estamos vivendo uma inflação pelo lado da oferta e não da demanda. Nesse sentido, o presidente do Banco Central continuará tendo surpresas. O Banco Central continua subindo os juros com todos os efeitos perversos sobre a economia e elevando a despesa com o serviço da dívida. A alta da Selic, além de não resolver o problema da carestia, aumenta o déficit público”, explicou.

Ao contrário de um arrefecimento, na opinião de Modenesi a situação da economia tende a se agravar pela trajetória de alta dos juros nos Estados Unidos. “Quando o Fed (Federal Reserve, Banco Central norte-americano) sobe os juros, o BC do Brasil também sobe para atrair investimentos. Mas a alta dos juros no país só piora a situação da economia para quem está com fome. As pessoas não têm dinheiro para comer e, como os preços vão continuar subindo, as pessoas de renda mais baixa vão continuar sem poder comprar alimentos”, afirmou o economista.

Modenesi lamentou ainda a decisão do governo Bolsonaro de aprofundar a política de fim dos estoques reguladores de alimentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab): “Lamento profundamente o desmonte da Conab e a falta de recursos para a agricultura familiar. Esta política é o que está causando o retorno de campanhas contra a carestia como quando começou o trabalho da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, fundada pelo Betinho. Daqui a pouco precisaremos de um novo Fome Zero. No período de Lula, a população comia carne e frango. Agora até o ovo está caríssimo”.