A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, pediu o arquivamento da denúncia de racismo contra Jair Bolsonaro e disse que não vê crime na frase em que perguntou a um negro quantas arrobas, medida para pesar gado, ele tinha.

Todas as vezes que Bolsonaro usou arroba para se referir ao peso de uma pessoa, essa pessoa era negra. Mesmo assim, a PGR não vê racismo.

No dia 12 de maio, em frente ao Palácio do Planalto, ele disse a um apoiador negro com quem conversava: “Tu pesa quanto? Mais de sete arrobas, né?”.

Lindôra Araújo, aliada do procurador-geral (PGR) Augusto Aras, que foi mantido no cargo por Bolsonaro, disse que só seria crime se Bolsonaro “tivesse se manifestado imbuído do propósito de discriminar a população negra”.

Ela ainda insistiu que “o contexto fático, porém, é absolutamente diverso”, pois “não houve nenhuma conotação relacionada com a cor da pele”. A conotação estava justamente na frase de Bolsonaro, e não no contexto.

Em 2019, enquanto tirava foto com um homem de feição asiática, Bolsonaro falou “tudo pequenininho aí?” e juntou os dedos para demonstrar algo pequeno, sem que na conversa houvesse qualquer “conotação relacionada” com o fato do homem ter feição asiática.

Araújo ainda disse que “é incabível, portanto, o recorte da fala de Jair Messias Bolsonaro, retirando-lhe do contexto e atribuindo-lhe conotação que não tinha, afastando a tipicidade penal”.

A ação contra Bolsonaro foi movida pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Orlando Silva (PCdoB-SP), e outros deputados.

Para os parlamentares, uma frase que usa arroba para se referir a uma pessoa negra “possui cunho inegavelmente racista, tendo em vista que arroba é uma medida utilizada para pesar animais”.

“Ao utilizar o termo, há um claro intuito de associar a pessoa negra a um animal, explicitando o racismo da conduta”, continuam.

“Sabe-se que a arroba é uma unidade de medida de peso, equivalente a aproximadamente 15 quilogramas, utilizada majoritariamente a animais destinados ao consumo humano, o que revela a visão animalizada que Jair Messias Bolsonaro tem da população negra e que, na qualidade de Presidente da República, a propaga”.

Orlando Silva afirmou que “as reiteradas falas racistas de Bolsonaro não podem ser entendidas apenas como injúria racial ou como piadas de mau gosto, sendo, na verdade, a prática inequívoca de preconceito, induzindo a discriminação racial por parte de outros brasileiros”.

Em 2017, quando ainda era deputado, Bolsonaro também mostrou seu racismo em uma palestra. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, falou.

Eleito, fez da negação do racismo política de governo. Para isso, colocou seu aliado Sérgio Camargo para acabar com a atuação da Fundação Palmares no combate ao racismo e na promoção da igualdade racial.

Mesmo sendo negro, Sergio Camargo já falou que o movimento antirracista era “inútil e ridículo” e tentou mudar o nome da Fundação Palmares para “Fundação Princesa Isabel”.

“A era da reafricanização e do senzalismo acabou na Palmares. Aceitem e criem a própria fundação vitimista, com recursos do movimento negro, que não trabalha e nada produz”, declarou o indicado de Bolsonaro.

Sobre o assassinato do congolês Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro, o ex-presidente da Fundação Palmares acusou-o de ser “um vagabundo morto por outros vagabundos”.