O relatório final da Polícia Federal tem 817 páginas e nenhuma prova contra o ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo. O saldo da Operação Ouvidos Moucos, portanto, foi o suicídio de um reitor inocente.

Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, nas seis primeiras páginas das 817 que compõem o relatório final da Polícia Federal sobre supostos desvios de verba na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o nome do ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo é citado oito vezes. Ali ele é apontado como quem “respaldava e sustentava” uma quadrilha que pilhava recursos da universidade.

O ex-reitor se jogou de um shopping de Florianópolis em 2 de outubro do ano passado, 18 dias após ter sido preso na operação Ouvidos Moucos.

O relatório ainda afirma que o reitor “nomeou e manteve em posição de destaque” o grupo de professores que abastecia a “política de desvios e direcionamento nos pagamentos das bolsas” do programa de ensino a distância.

Lembrando que todos os fatos narrados no relatório aconteceram de 2008 a 2017, sendo que Cancellier assumiu o cargo de reitor em maio de 2016. Dessa forma, depreende-se que seria improvável que Cancellier tivesse participado de qualquer irregularidade. Enquanto isso, os reitores que antecederam Cancellier nesse período, Alvaro Toubes Prata (2008 a 2012) e Roselane Neckel (2012 a 2016), não são alvos.

Questionada pela Folha sobre a ausência de provas, a Polícia Federal disse apenas que a investigação está finalizada.

No relatório, Cancellier só aparece, e indiretamente, em episódio sobre três depósitos efetuados em 2013 na conta de seu filho Mikhail. Os depósitos foram feitos pelo professor Gilberto Moritz na conta do filho de Cancellier, que ainda não era reitor da federal, e totalizavam apenas R$ 7.102.

O filho dele foi questionado por policiais federais e disse não lembrar o motivo das transferências. Na época, ele tinha 25 anos e era ajudado financeiramente pelo pai.